sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

SOU UM POUCO DE TUDO


" Sou um pouco de tudo", diz Guilherme Arantes, "e o que mais me inspira é o amor, departamento mais fascinante do ser humano, que foge à racionalidade e é um mundo vasto, profundo." Isto remete, de imediato, ao cantor de Êxtase, Prelúdio, Um dia, um adeus. Mas, o paulistano da Bela Vista Guilherme Arantes está longe de ser somente reconhecido por esse repertório de canções românticas. Garoto prodígio, tocou cavaquinho e bandolim aos 4 e piano aos 6. Deixou professores de piano de cabelo em pé e literalmente na mão. Em função de sua rebeldia musical tornou-se praticamente um autodidata. Músico profissional aos 15. Músico de baile aos 17. Tecladista do irreverente Jorge Mautner aos 19.


Aos 21, por influência do que acontecia na Europa pós-Beatles, torna-se progressivo, no já cultuado Moto Perpétuo. " Verde Vertente hoje consta imponente em antologia do rock brasileiro dos anos 70, ao lado de A Barca do Sol, O Terço, Som Imaginário, Joelho de Porco, Bixo da Seda,Casa das Máquinas, entre outros. Aos 23, Guilherme Arantes abandona a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade de São Paulo (FAU-USP), e passa a tocar 530 vezes na novela das 7 da mais poderosa das emissoras brasileiras, o que acabaria lhe rendendo o apelido de "menininho da Globo".

Mais tarde, uma jornalista da Folha de S. Paulo diagnosticaria: Um Anjo Mau disse: " Vai, Guilherme, ser sucesso na vida...e ele foi ". E o tema Meu mundo e nada mais, adaptado para o personagem de José Wilker, em Anjo Mau, em 1976, seria só a porta de entrada de sua carreira solo, via Som Livre. A partir daí, foram 25 novelas, 25 discos de carreira, 34 coletâneas, um DVD acústico solo, em 2001, pela Sony, outro em 2007, pela Som Livre (Intimidade), projetos de outros com Leila Pinheiro, Flávio Venturini e, eventualmente, com algumas orquestras sinfônicas que se dignam a tocar MPB. O novo DVD, pela Som Livre, gravado em sua ONG - Instituto Planeta Água/Estúdio Coaxo do Sapo - na Bahia - abriu a série Intimidade para a Som Livre, em 2007.


Exatos trinta anos antes, em 1977, para a telenovela Duas Vidas , de Janete Clair, Guilherme compõs Cuide-se bem. No mesmo ano, a belíssima Baile de Máscaras entrava na trilha de uma novela fadada à incompreensão: Espelho Mágico, de Lauro César Muniz, que se constituía no retrato do retrato: a metalinguagem do mundo da TV. Em 1979, para Pai Herói também de Janete Clair, indicaria 14 anos, do disco A Cara e a Coragem (Warner Music), que tratava da temática de um jovem, anos 70, meio angustiado e perdido numa sociedade que se industrializava em nome do progresso. Mas, enquanto suas músicas faziam sucesso nas trilhas de novelas, o angustiado e inquieto Guilherme trilhava caminhos quase alternativos. No mesmo momento em que os também inquietos e irreverentes músicos da Vanguarda Paulista frequentavam os embolorados porões do Lira Paulistana, na Praça Benedito Calixto, reduto do inconformismo musical dos anos 80, Guilherme se lançava no projeto de Coração Paulista, que se não foi um grande sucesso de público, tornou-se cult e sucesso de crítica, abrindo caminho para que Elis Regina lhe telefonasse pedindo um hit. E o hit veio imediatamente com Aprendendo a Jogar. Elis também gravaria Só Deus é quem sabe.


Em 1981, uma nova guinada: na trilha sonora da novela Baila Comigo, de Manoel Carlos, estoura com Deixa Chover, tema para a personagem de Betty Faria. Logo em seguida, Guilherme se tornaria alvo de uma polêmica histórica na MPB - qual era a melhor canção do II MPB Shell, de 1981 - Purpurina cantada por Lucinha Lins, que ganhou o festival debaixo de uma vaia de 10 minutos - ou Planeta Água, aclamada pelo público minutos antes, e segunda colocada ?


A partir de 1982, Guilherme passa a estourar um ou dois hits pop a cada disco (cd). O melhor vai começar, Lance Legal, Pedacinhos, Graffitti, Cheia de Charme, Fã Número 1, Olhos Vermelhos, Coisas do Brasil, Marina no Ar, Ouro, Loucas Horas. Naquela altura, Guilherme Arantes "estourava" para o grande público brasileiro, já com 10 anos de carreira no disco e nos palcos, e no "pop carioca" (quem diria, não ?!) e outros tantos anos deixados para trás, como músico profissional.


Em 1987, a canção Um dia, um adeus , composta em um momento difícil no casamento com a ex-modelo e 'absurdette'/DJ (Paulicéia Desvairada) Luísa, torna-se um hit inimaginável na carreira de Guilherme, competindo com O amor e o poder da talentosa cantora Rosana, como tema dos personagens de Vera Fischer e Nuno Leal Maia, na também polêmica Mandala, de Dias Gomes e Aguinaldo Silva. Em 1989, um magnífico CD - Romances Modernos - traz Muito Diferente e o tema de Edson Celulari, Raça de Heróis, na já cultuada Que Rei sou eu?!, de Cassiano Gabus Mendes.


Em 1990, um Guilherme mais "social' surge em Pão. O disco refletia a maturidade do pai de (então) quatro filhos, vendo-os crescer num mundo que parecia tentar o alvo da desmilitarização e enveredava pela modernidade de CDs, DVDs, Internet. Mas que também trazia a moda do sertanejo, do forró, do axé e de outros ritmos ultra populares, "impostos" pela mídia. Mídia essa que, irremediavelmente, também se popularizava, depois de tantos planos econômicos, e que, de certa forma, deixaria a MPB um tanto à deriva, no mar revolto da indústria fonográfica.


Viriam ainda, naquela década, os cds Crescente (1992), Castelos (1993) e Clássicos (1995), esse último um projeto para o próprio prazer, como declararia à época, em que pôde revisitar velhas canções do seu imaginário adolescente, e que já haviam se tornado clássicos do pop mundial. Isso aconteceu sob a batuta do maestro e arranjador inglês Grahan Preskett, que já trabalhara com Maria Bethânia.

Em 1997, veio a Maioridade, pela Globo/Polygram, marcando seus 21 anos de carreira. Em 1999, lança um disco pela Playarte, trazendo um Guilherme muito romântico, mas ao mesmo tempo preocupado com o novo milênio, que se aproximava, além da regravação de Na linha do horizonte, do também progressivo Azymuth.


O ano 2000 trouxe um Guilherme Arantes tocando progressivo/new age, no CD totalmente instrumental New Classical Pianos Solos. Trouxe, ainda, um Guilherme animado com o convite da Steinway Hall, para ser o segundo brasileiro, depois de Guiomar Novaes, a tocar em seu famoso lounge, com alunos da Julliard School e a presença marcante de Marietta Arantes, sua filha mais velha, nos vocais.


Mas, os anos 1990/2000, além da modernidade do digital trouxeram também a pirataria: a do camelô de esquina e a internalizada pela praticidade do MP3. Artistas da MPB em geral, todos, passavam a buscar seus próprios caminhos a trilhar, num mar de cópias falsas. Mas o CD traz, também, a imposição das regravações e Guilherme completa 34 delas em poucos anos: uma fórmula mágica, também, das gravadoras girarem seus catálogos, sem o ônus dos relançamentos. O DVD, no final dos anos 90, início dos 2000, trouxe a obrigatoriedade do "ao vivo".


A moda, implementada aqui pela MTV, lança a obrigatoriedade do "unplugged": o nosso "acústico". E lá foi, de volta, o nosso Guilherme, aos então quase vinte e cinco anos de carreira para o bom e velho Bixiga, onde nasceu, para filmar, no Teatro Mars, o seu acústico para a Sony, devidamente equipado com seu boné ao estilo Elton John, seu indefectível tênis vermelho de skatista e duas músicas inéditas: Vai ficar prá mim, uma balada de despedida, e Prontos para amar, tema para a jovem atriz Taís Araújo, em Porto dos Milagres, de Aguinaldo Silva, para o horário das 21 horas.


Em 2000, veio, na vida pessoal de Guilherme, a saída de São Paulo, rumo a Salvador, Primavera e Outono, uma namorada mais que amada, e que ele lançaria em música, em 2004, em primeira mão na web - uma experiência bastante interessante.


Em 2003, também, chegaria Aprendiz , em que Guilherme se renovava na busca de novos ensinamentos: um verdadeiro "aprender para ensinar" (em sua ONG: o Instituto Planeta Água ), como preconiza a pedagogia do ilustre pensador Paulo Freire. Naquele mesmo momento, Casulo vai para a trilha de Agora é que são elas, uma novela que ficou pouquíssimo no ar, devido a uma certa incompreensão por parte do grande público.


Em 2007, Guilherme Arantes abre o Live Earth Rio, cantando Planeta Água. No mesmo ano,um novo CD de inéditas é editado: nasce Lótus. Mais que seu 25º disco de carreira (incluindo o CD do DVD Intimidade), é uma flor que nasce do tempo. Do tempo de estrada consolidada por um músico multifacetado e quase atípico. Esse Guilherme Arantes múltiplo e quase sempre cheio de novas idéias, como aquele jovem que compôs Amanhã, em um ônibus da antiga CMTC, na subida da Rua Augusta, rumo ao centro da cidade de São Paulo, ainda nos tempos da Faculdade de Arquitetura da USP (FAU - USP), em um caderno de anotações.


Lótus chega como o novo projeto daquele Guilherme Arantes que não se deixaria influenciar maleficamente por um Maracanãzinho superlotado gritando seu nome, em 1981. Nem por dezenas de hits. Nem por dezenas de gravações e regravações por parte de grandes nomes da MPB, entre os quais Caetano, Elis, Roberto Carlos, Maria Bethânia, Fafá de Belém, MPB4. Pelo contrário. O que se observa, no momento, é um Guilherme super tranquilo, morando na Bahia, desde 2000, e recém redescoberto pelos(as) jovens cantores(as) brasileiros(as) - Mart'nália, Paulo Ricardo, Max Viana, Pedro Mariano, Zélia Duncan, Adriana Calcanhoto, Vanessa da Mata. Adriana incluiria Meu mundo e nada mais, de 1976, no seu mais recente show - Maré - depois de um momento difícil em sua turnê por Portugal, no início de 2008.

Mais recentemente, também, a brilhante Vanessa da Mata "redescobriria" a linda canção Um dia, um adeus, de 1987, para o repertório de seu primeiro DVD, gravado ao vivo em Paraty, para o Canal Multishow. A outra canção regravada do seu CD é As rosas não falam, de Cartola. Tudo isso acontece ao mesmo tempo em que a diva Maria Bethânia cobra de Guilherme insistentemente um novo hit como Brincar de Viver para seus próximos lançamentos.


Assim, o que se tem, nesse momento, que marca esta trajetória musical vitoriosa, de praticamente 35 anos, é um Guilherme Arantes tranquilo, vivendo com a família na grande Salvador, mas sempre em busca de novas sementes para o replantio em sua ONG - em Barra do Jacuípe - sua faceta mais visível de biólogo/ecologista amador, o que, de vez em quando, lhe rende uma queda de árvore, fato que com frequência relata nas palestras que ministra sobre a temática do meio ambiente, Brasil afora.


Há, ainda, um outro Guilherme que vive em busca de soluções arquitetônicas para a construção de sua pousada-estúdio Coaxo do Sapo. Sim - ele também voltou às pranchetas e aos "autocads da vida" - para a enorme alegria de sua mãe - a Dona Hebe - que ainda sonha com sua volta para as aulas na FAU - USP. Isso tudo sem deixar de lado, claro, as inevitavelmente presentes inspirações musicais, que ele, de quebra, quase sempre registra no seu bom e velho caderninho de anotações. Guilherme produziu, também, o CD do cantor e compositor Sérgio Passos, para o selo Coaxo do Sapo, lançado recentemente.


Guilherme Arantes: 35 anos de
um talento genuinamente original



Em uma canção muito famosa e festejada, Caetano Veloso preconizou que São Paulo “é o avesso do avesso do avesso” (Sampa). Quando se referiu à questão, certamente pensou em vários aspectos da cidade, mas, basicamente, na sua relação com as artes. Do início do século passado até sua metade, São Paulo era absolutamente provinciana. Era também apenas local de passagem para outros lugares, como sempre fora. E era bilíngüe: Português e Italiano conviviam em perfeita harmonia. Não é por acaso que em São Paulo ainda hoje se toma um “espresso” em uma cafeteria ou se come um “gnocchi” em uma cantina. E não foi, também, por acaso, que Adoniran Barbosa compôs o Samba Italiano (Piove).

Nos anos 1920, São Paulo deu lugar à “Semana de Arte Moderna” (1922) de Mário e Oswald de Andrade. Nos anos 1920 até 1940, enquanto o Rio de Janeiro vivia a era de ouro do rádio, São Paulo recebeu grandes contingentes de populações imigrantes de várias partes do mundo, o que, a rigor, acontece até hoje.

Nos anos 1950, São Paulo, ainda pouco populacional, é a pioneira na instalação da televisão brasileira. Nos anos 1960, vê os musicais tomarem conta da TV. E havia lugar, na TV Record, para todas as tendências musicais: da chamada Velha Guarda à emergente Jovem Guarda. Depois, São Paulo e a TV Record deram espaço para a Tropicália.

Os anos 1970 foram reflexo do AI5. A Record e a Excelsior (pioneira das novelas com a Tupi) entram em colapso econômico. Incêndios queimam a memória da nossa TV. A Rede Globo, íntima do poder, se fortalece e se inicia na produção em série de telenovelas e de festivais de música, que, como os da Record, revelariam nomes importantes para a depois chamada MPB – esse novo gênero musical.

Entre os anos 1950 e 1970 a televisão reflete os gostos e os anseios da classe média adulta. Mas, não será por acaso que a indústria fonográfica crescerá quase 700%, nesse período. É o efeito-mesada - uma conquista do jovem daquela geração - antes praticamente desconhecido. É o reflexo do “milagre econômico”. Do governo militar. E não será por acaso que a música jovem invadirá os anos 1980, fato que ocorrerá também com o cinema e com a TV. O marketing (re)descobre o jovem. Menos permeável aos desencantos do consumismo, ele é o “comprador padrão” daquela década. Produções juvenis vão invadir a TV. Atores e cantores que refletem seu anseios também vão.

Mas, como o jovem é insatisfeito por natureza, sempre surgirão “estéticas alternativas”. E São Paulo sempre teve clima para isso. O crítico Lauro Lisboa Garcia diz: “A vocação cosmopolita e transformadora da cidade, obviamente, está longe de ser novidade . Basta lembrar movimentos como a Jovem Guarda e a Tropicália, além dos históricos festivais de música popular brasileira, deflagrados aqui na década de 1960. O baiano Tom Zé, o maranhense Zeca Baleiro, as mineiras Wanderléa e Maria Alcina, o paraibano Chico César, entre outros, se estabeleceram aqui e trocam impressões com nativos da Paulicéia, como Arnaldo Antunes, Curumin, Luiz Tatit, Tatá Aeroplano, Edgar Scandurra, Leo Cavalcanti, Tulipa Ruiz, Beto Villares, Marcelo Jeneci. (Estadão, 01/01/11).

Assim, embora ninguém ainda tenha se atrevido a dar nome a ela, não há dúvida de que vivemos, na cidade de São Paulo, nesses anos 2000, uma, digamos, “Nova Vanguarda Paulista”. E, em 2010, com lançamentos de peso na cena "alternativa", a cidade enfim teria sido reconhecida como o pólo produtivo mais representativo da década” .

Pra quem não se lembra, entre 1979 e 1985, mais ou menos, aconteceu, nessa mesma cidade, um movimento musical, paralelo ao movimento “mainstream pop” do Rio de Janeiro e que contava com nomes como Itamar Assumpção, Arrigo Barnabé, Tetê Espindola, Grupo Rumo, Premê, Língua de Trapo, entre tantos outros. Em 2009, uma festa no Sesc Consolação (SP) comemorou a data, com direito à gravação de um documentário a ser lançado futuramente.

O tempo passou, as crianças cresceram e olha só: a filha de Itamar é a Anelis Assumpção. A filha do Mário Manga (Premê) é a Mariana Aydar. Iara Rennó é a filha de Tetê e Carlos. Anelis e Iara formaram a Banda Zica com a Andréia Dias – muito reconhecida na década. Laura Lavieri, companheira inseparável de Marcelo Jeneci, é filha de Rodrigo Rodrigues, do Música Ligeira (Rodrigues, Manga, Tagliaferri). Léo Cavalcanti é filho do músico e cineasta Péricles Cavalcanti.

Outras bandas como Vanguart (Cuiabá), Móveis Coloniais de Acaju (Brasília), Mombojó (Recife) e Cérebro Eletrônico (São Paulo, liderada por Tatá Aeroplano), e de outros estados, completam a cena. Mas tem muito mais gente. Tulipa Ruiz, por exemplo, é filha de Luiz Chagas - da Banda Isca de Polícia, que acompanhava Itamar Assumpção. E Marcelo Jeneci parece ser a grande exceção à regra – não pertence à classe média e seu pai, ao invés de artista, era um especialista em consertar instrumentos musicais, em Guaianases, na grande São Paulo, onde Jeneci nasceu.

Do ponto de vista geográfico, na cidade, desde a “primeira vanguarda” o eixo se deslocou do Teatro Lira Paulistana (Pinheiros) e do Sesc Pompéia para os teatros do chamado “Baixo Augusta” – basicamente o Studio SP - e de casas da Vila Madalena – entre elas Espaço Soma e Estúdio Emme. No caso da Augusta, essa cena pop-MPB mantém-se em pacífica convivência com a cena do rock, igualmente efervescente na cidade. Essa cena ampliada da música paulista convive, também, com a tradicional boemia das boates da área da Rua Augusta.

E, nesse momento, os grandes nomes dessa cena parecem ser, mesmo, Tulipa Ruiz e Marcelo Jeneci. Os premiados do ano que acaba. E o nome emergente é Karina Buhr (Ex-Comadre Fulozinha, banda de Recife).

Mas, o mais interessante disso tudo é que Marcelo Jeneci, vejam só, tem sido muito comparado a Guilherme Arantes. Que curioso, pois, nós, que conhecemos bem a ambos, nem vemos tantas semelhanças assim. Mas, vejamos. Recentemente, no programa Radar Cultura, onde foi entrevistado, Jeneci mandou um recado para Arantes e disse: “Guilherme, você tem muitas músicas a compor, ainda”, em uma clara alusão a uma amizade recente, entre ambos, a partir de sua visita a Guilherme, que cumpria temporada no Bar Brahma, em maio do ano passado.

A matéria publicada pelo Último Segundo, em 30/11/2010, e assinada por Pedro Alexandre Sanches, foi a que primeiro constatou “tais supostas semelhanças”. Existem, de fato, algumas coincidências, mas não muitas. Ambos são paulistanos da gema, começaram profissionalmente aos 15 anos de idade, tocando com grandes nomes – Arantes tocava com Jorge Mautner e Jeneci com Chico César. Ambos têm como instrumento principal o piano. Jeneci também toca harmônica. Ambos foram lançados ainda muito jovens, cerca de 25 anos, pela Som Livre.

Em termos musicais, em suas letras, Marcelo Jeneci faz algumas alusões à água, e à chuva, apenas alguns dos muitos elementos poéticos desenvolvidos por Guilherme Arantes nas suas mais de 500 canções editadas - mas não os únicos temas - como sabemos. E tudo indica que as semelhanças morrem por aí.

Sem, no entanto, nenhum demérito ao músico Marcelo Jeneci, que apenas inicia a sua, Guilherme está na carreira há 35 anos (37 contando os 2 com o Moto Perpétuo), já gravou 25 Cds com músicas inéditas, esteve na trilha de 25 novelas além de dezenas de Coletâneas lançadas e relançadas por gravadoras.

Jeneci, que mantém contratos exclusivos com a Som Livre e a Natura Musical, lançou recentemente seu primeiro CD “Feito Pra Acabar”. E, claro, boa parte do seu reconhecimento se deve ao seu trabalho como compositor e músico de caras como Arnaldo Antunes, Zé Miguel Wisnik, Luiz Tatit, Vanessa da Mata…. Marcelo Jeneci faz parte de uma geração em que as canções não são mais instrumentos políticos. Não há a necessidade de críticas. A letra pode ser bela por si. É até por isso que ídolos e artistas da MPB com tais características voltam a ser citados como referências.

Mas, a par disso tudo, o que se vem notando, é que o trabalho de Guilherme Arantes vem sendo elogiado e reconhecido por todas as tribos da música brasileira. Da MPB ao rock. Do underground ao instrumental. No primeiro vídeo abaixo, Ivan Vilela, grande violonista paulista, e Maurício Pereira, ex-Os Mulheres Negras, e ex-parceiro de André Abujamra, três ícones da música de São Paulo, definem a importância de Guilherme Arantes na cena paulista, muito festejada já no cultuado cd Coração Paulista - de 1980 – contemporâneo à vanguarda dos anos 1980, embora não pertencesse à ela.

No segundo vídeo, também ligado ao Projeto Música de São Paulo, o lendário executivo da indústria fonográfica, Pena Schmidt, atualmente coordenador musical do Auditório Ibirapuera (SP), onde Guilherme Arantes tocou por três horas e meia em fevereiro do ano passado (!), apenas acompanhado de seu piano, descreve a personalidade singular do artista desde sua formação progressiva no Moto Perpétuo.

Depois, Guilherme, como sabemos, trilhou pelo pop, pela MPB, pelo instrumental new age. Em 2011, completa, portanto, 35 anos de carreira, desde que deixou o também já cultuado Moto Perpétuo para se lançar em carreira solo, com Meu Mundo e Nada Mais, de 1976, também tema da novela “Anjo Mau”.

Para finalizar, é impossível, nesse momento por que passa a música no Brasil, não se lembrar de uma das frases célebres de Cazuza: "Meus heróis morreram de overdose"... Não necessariamente ele se referia a uma overdose da mídia - mas, sem dúvida, ela hoje enfia "goela abaixo”, sem qualquer constrangimento, os chamados "sucessos" e "sucessores". Desculpe, Cazuza, mas nesta overdose impositiva da mídia, você estava absolutamente errado!!!

Veja os vídeos:


TEXTOS PUBLICADOS ORIGINALMENTE POR
PLANETA GUILHERME ARANTES
http://www.planetaguilhermearantes.com/

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